No entanto, a história real deste modelo é muito interessante e não posso deixar de a contar.
Este Jaguar E (#S850662) foi construído totalmente em alumínio (lightweight), ou seja, uma célula central em folhas de alumínio rebitadas a um falso chassis que suporta um motor de 6 cilindros em linha de 3781cc com bloco XK e culassa também em alumínio. A carroçaria, também de alumínio, era do tipo roadster com hard-top em ... alumínio. No motor foi adoptada uma injecção Lucas e passou a debitar 345 cv. Com isto, este Jaguar pesava cerca de 975 Kg e tinha agora a possibilidade de lutar de igual contra os Ferrari 250 GTO, os Aston Martin DB4 GT Zagato ou os Shelby Cobra.
A 3 de Maio de 1963, este modelo foi vendido novo a Peter Lindner, filho do importador da Jaguar para a Alemanha, que imediatamente começou a competir com ele. Co-pilotado por Peter Nocker, participaram nos 1000km de Nurburgring e lideravam na primeira volta – no circuito grande, com 22,8km – à frente dos protótipos Ferrari 250P e Porsche 718, até o motor avariar. Algum tempo depois, neste mesmo circuito conseguiram vencer duas provas de turismo, incluíndo as 12h do Nurburgring e posteriormente outras provas em Avus e Innsbruck.
Para preparar a época de 64, o Jaguar voltou à fábrica onde o hard-top foi retirado e colocado um tejadilho e uma secção traseira inspirado no modelo “Low Drag Coupé #EC1001”. Com esta transformação, este Jaguar E seria o Lightweight mais rápido de entre os 12 modelos construídos. De volta às pistas, coleccionou algumas desistências – Nurburgring e Zolder – mas em Junho, P. Lindner / P. Nocker levaram-no até Le Mans. A nova secção traseira funcionou muito bem na longa recta da pista francesa e permitiu-lhes uma volta em 4’05’’9 (23º tempo dos treinos). Sempre rápido durante a prova, o Jaguar teve que parar durante 3h nas boxes quando o motor começou a aquecer demasiado a meio da prova. Enquanto mudavam a junta da culassa e um semi-eixo, nas boxes desprotegidas da época, o Jaguar foi atingido violentamente por restos de metal de um Ferrari 250 GTO que explodiu ao passar por ele! Com isto, foi necessário reparar a carroçaria e inclusivé mudar o depósito de combustível. Regressando à pista, o belo Jaguar voltaria a parar às 7h30 da manhã, agora definitivamente, com a temperatura da àgua novamente nos 110º!
O Jaguar voltaria a entrar numa prova do Campeonato Mundial de Marcas (aberto aos GT da divisão 3 e aos protótipos) em 11 de Outubro de 1964 para os 1000km de Paris, disputados no circuito de Montlhéry. Após 4h de corrida, Peter Lindner está em 6º lugar e aproxima-se das boxes, saíndo muito rápido do anel de velocidade. Um pequeno Abarth-Simca 1300 Bialbero, conduzido pelo italiano Franco Patria, prepara-se para voltar à pista mas nesse instante é brutalmente abalroado pelo Jaguar. Devido a acquaplanning, Lindner não conseguiu controlar o Jaguar e embateu no Abarth, matando o piloto italiano e mais três comissários de boxe. O próprio Lindner viria a falecer algumas horas mais tarde no hospital. Os restos do Jaguar ficaram vários anos guardados numa garagem do circuito, enquanto decorria um inquérito judicial. Mais tarde, a amálgama de alumínio foi transferida para outra oficina mecânica até que em 1976 um incêndio na mesma obriga o seu proprietário a colocar o Jaguar ao relento, nas traseiras do seu terreno.
No início dos anos 80, e após a recusa de vários coleccionadores em recuperar o #S850662, a Lynx Engineering faz uma espécie de reconstrução do carro, usando várias peças originais resgatadas do acidente. O resto do Jaguar segue juntamente com este novo modelo, que esteve em exposição até 2007 no Museu Rosso Bianco. Em 2008, a empresa Classic Motor Cars adquire os dois modelos e faz agora a reconstrução fiel do Lightweight aproveitando 90% do material original deste! Demorando 3 anos e mais de 5.000h de trabalho, o Jaguar E de Peter Lindner foi visto pela primeira vez em 2011 durante o Concorso d’Eleganza Villa d’Este. Neste início de 2012, recebeu o prémio para o melhor restauro mundial em 2011.